Publicado por: Prótouro | 20 de Junho de 2012

Tauromaquia versus anti-tauromaquia

No que respeita a touradas dois conceitos opostos e divergentes enfrentam-se, o que leva a que a maioria das vezes as conversas entre tauromáquicos e anti-tauromáquicos estejam condenadas à ruptura total.
Os aficionados não conseguem compreender o que há de mal na sua actividade, enquanto que os opositores desta actividade são incapazes de compreender qual a motivação psicológica que faz com que pessoas em regra geral razoáveis, aceitem como normal e aplaudam um espectáculo que em outras circunstâncias lhes pareceria aberrante.
A resposta reside num factor de coesão social chamado EMPATIA. Esta consiste em partilhar a dor alheia e qualquer outro sentimento e colabora e colaborou fortemente para o êxito de qualquer sistema social. É o germe de conceitos como a justiça, a piedade e a humanidade. A empatia não se limita aos seres humanos mas a qualquer ser que apresente sintomas de sofrimento. Qualquer ser que sofra é susceptível de provocar a nossa empatia e fazer com que nos revoltemos contra esse sofrimento, mais a a mais se as vítimas são crianças ou animais, uma vez que os consideramos livres de qualquer intencionalidade ou culpa. E os aficionados sabem disso.
O problema existe quando consideramos que os aficionados assistem impávidos ao sofrimento e morte de um animal que sabem ser inocente, o que vai contra os instintos empáticos do ser humano. Neste caso, não vale a pena dizer que os aficionados coisificam o animal da mesma forma que fazemos com os animais de abate, mas sim pelo contrário, os aficionados esforçam-se por atribuir caractarísticas antropomórficas ao touro, falam de valor, nobreza, sentido. Em nenhum momento consideram o animal como objecto.
É um claro paradoxo.
O poder mais representativo é o poder sobre a vida e sobre a morte. Historicamente os regimes mais absolutistas destacaram-se pela facilidade com que tiravam a vida aos seus súbditos. As maiores fatias de poder das diferentes igrejas concertaram-se nas mais sanguinárias inquisições. Neste poder a justiça tinha uma importância menor, o importante eram as torturas e as execuções.
Socialmente acontecia o mesmo. As religiões cruéis da antiguidade representavam o poder de uma sociedade em função das vítimas que faziam e o facto de matar prisioneiros ou animais dava-lhes uma demonstração de poder e unia os povos (ainda que contra outros).
Encontramos isto nas touradas. Ao espectador dá-se a oportunidade de “intervir” simbolicamente na lide demonstrar o seu poder e matar o animal. Para ele uma tourada televisiva perde toda a sua emoção. Porém não se trata tão somente de o matar, mas demonstrar o seu domínio sobre um animal possante e belo e daí os vinte minutos de tortura que precedem essa morte. Os aficionados portugueses querem que o touro morra em público e sob o seu ponto de vista é razoável a sua pretensão.
Uma vez morto o animal, o público teve a sua dose de comunhão com o poder (totalmente fictício, claro está) e pode regressar a sua casa com tranquilidade. Isto explica também a prática habitual das touradas por parte dos governantes absolutistas como apaziguador social, fê-lo José Bonaparte para conquistar o povo de Madrid (ainda que Carlos V as proíbisse e provavelmente também o faria o seu irmão), fê-lo Fernando VII e a sua filha Isabel II (naquilo que se chamou “ a idade de ouro” da tourada, ainda que tenha sido o seu início).
E fê-lo no século passado Franco protegendo-a, ainda que , curiosamente os falangistas em quem este por sua vez se apoiava estivessem contra.
Prótouro
Pelos touros em liberdade

Respostas

  1. Muito bom.
    Com os devidos créditos vamos publicar no nosso blog.
    Abraços.

    CAPT (Campanha Anti-tourada Portugal)

  2. Ótimo texto! vou partilhar indicando a fonte.


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