Este é o título do artigo publicado ontem por Fernanda Câncio no DN.
Artigo esse que aplaudimos e do qual publicamos um excerto.
“Se me perguntarem se quero acabar com as touradas, direi que não sei responder, não quero responder. Se me perguntarem se as touradas devem acabar, direi que é inevitável. É por uma questão de gosto que digo isto? Não, de maneira nenhuma – eu gosto, mesmo se não me permito gostar, de touradas. É uma conclusão simplesmente racional. Civilizacional, como disse Graça Fonseca.
Esta conclusão nada tem de fundamentalista ou de “política identitária”, para usar expressões usadas este sábado no Expresso por Pedro Adão e Silva para descrever os setores que no seu entender “perseguem” a tauromaquia. Nem tão-pouco advém de me arrogar conhecer a vontade da maioria sobre esta matéria. Não faço ideia do que a maioria acha das touradas, mesmo se é sabido que a maioria não as frequenta. Mas há algo que sei: a legislação portuguesa, sufragada pelos representantes eleitos, há muito estabelece que os tratamentos cruéis e o “sofrimento desnecessário” de animais são proibidos, inclusive no que respeita aos que são criados e abatidos para alimentação. As touradas, especificamente excecionadas nessas leis, subsistem como uma flagrante violação desses princípios. Que aliás têm vindo a evoluir no sentido de uma maior garantia dos direitos dos animais, naquilo que é um caminho civilizacional.
Se alguma coisa há a dizer sobre as touradas é que beneficiam de uma discriminação positiva: a que permite a sua manutenção mesmo se contradizem em absoluto o espírito da lei. Não houve aliás até hoje, no que respeita às touradas, um centímetro conquistado por aqueles que, segundo o Pedro, defendem “a absurda equivalência entre direitos humanos e direitos dos animais” (se alguém defende isso, de resto); pelo contrário, temos visto averbadas sucessivas vitórias do setor tauromáquico. Basta lembrar a (essa sim absurda) admissão legal, no final dos anos 90, da morte do touro como espetáculo em Barrancos, ou o facto de nunca se ter impedido, contra recomendações do Comité dos Direitos da Criança da ONU e, diria eu, o mero bom senso, que crianças assistam a touradas. É certo que a legislação subiu em 2014 a idade mínima de seis para 12, mas é a própria Federação Portuguesa das Touradas que na sua página esclarece ser essa determinação legal “só um aconselhamento” e que as crianças a partir dos três podem entrar, se levadas pelos seus responsáveis legais (informação curiosa no país que tanto debateu a interdição a menores de 18 de algumas obras de Mapplethorpe, e no qual os espetáculos pornográficos são taxados com IVA a 23%).”
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Prótouro
Pelos touros em liberdade
Conheço a Fernanda desde que nasceu, minha vizinha.
Conheço a família aficionadissima e com um primo muito interventivo no meio, por isso a compreendo tão mas tão bem porque sou ex-aficionada.
Vale a pena ler.
“E tinha decidido não me meter porque é para mim um lugar armadilhado. Nele confronto a minha racionalidade e os meus princípios com uma espécie de lealdade ancestral, uma emoção estética, uma vertigem de fervor e sangue que não sei controlar. É simples, não tem o que saber: nasci e cresci num meio de touradas e esperas de touros, tive e tenho familiares que fazem dele parte. Conheço a paixão de quem defende as touradas e sei como se sente cercado, como se enfurece na noção de uma sentença adiada, na ideia de ser minoritário, e como facilmente perde a razão – se alguma vez a teve.”
By: мαℓυ™® on 13 de Novembro de 2018
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